segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Incrível Peñarol e o Renascimento de Gigantes (Parte II)

Ascensões e Queda da Celeste Olímpica



O amistoso entre a Seleção Uruguaia e a Argentina em 16 de maio de 1901, em Montevidéu, foi a primeira partida internacional de futebol da história a ser disputada fora das Ilhas Britânicas. Vitória Argentina por 3 a 2.


Jogadores das Seleções do Uruguai e da Argentina em amistoso - 1903

Os títulos começaram em 1916, já sob o carinhoso apelido de celeste, quando conquistou sua primeira Copa América. Naquele ano, nenhuma outra seleção do mundo tinha jogadores negros. O Uruguai campeão da América tinha dois. Isabelino Gradín e Juan Delgado.


Seleção Uruguaia - 1916

Como o torneio foi disputado anualmente até 1929, à época o Uruguai já era hexa campeão. Em 1924, a seleção conquistou o seu primeiro Ouro Olímpico, nos jogos de Paris. Feito que repetiu nos jogos seguintes, de 1928, em Amsterdã, incrementando seu apelido. A seleção seria, desses jogos em diante, conhecida como A Celeste Olímpica.





Bicampeão Olímpico de futebol, o Uruguai recebeu a incumbência de sediar a primeira Copa do Mundo, em 1930. Tendo vencido Peru (1 a 0) e Romênia (4 a 0) na fase de grupos e despachado sonoramente a Iugoslávia (6 a 1) na semifinal, a celeste fez a primeira final da história das Copas contra a Argentina, eterna rival. Vitória uruguaia por 4 a 2 em Montevidéu.




Uruguai Campeão do Mundo - 1930

Tendo sido a Copa de 1930 negligenciada pela maioria das potências européias de futebol, que boicotaram o torneio, o Uruguai recusou-se, em represália, a participar da edição de 1934, na Itália. Quanto à edição de 1938, e expectativa era de que o torneio voltasse à América do Sul, e a Argentina era a principal candidata a sediar o evento. No entanto, o presidente da FIFA Jules Rimet (francês), persuadiu a entidade a conceder as honras à França. Um boicote em massa por parte dos países americanos se seguiu à decisão, incluindo-se no grupo rebelde mais uma vez o Uruguai.

No ano de 42 houve guerra em vez de Copa do Mundo. Assim como em 46. Mas a Copa América seguia firme. E o Uruguai conquistaria o octacampeonato naquele 1942 (havia arrebatado o hepta em 35) vencendo a Argentina na final. A essa altura, haviam ocorrido onze finais entre Argentina e Uruguai, e a Celeste havia vencido oito. Com o fim da guerra, a Copa do Mundo voltou a acontecer. A sede de 1950 foi o Brasil. A seleção brasileira atropelava os adversários (7 a 1 sobre a Suécia; 6 a 1 sobre a Espanha) alimentada e alimentado o clima de euforia da torcida. A final pôs frente a frente, no gramado do Maracanã, os anfitriões e os Uruguaios. Favorita incontestável, a seleção brasileira jogava pelo empate. Mesmo assim fez 1 a 0 com Friaça aos dois minutos do segundo tempo. Comandada pelo seu lendário capitão, o centromédio Obdúlio Varela, jogador do Peñarol à época, a celeste não se intimidou. Dos pés de outro ídolo carbonero, Pepe Schiaffino, saiu o gol de empate aos 21 minutos. Aos 34, o lance que jamais se apagará do imaginário coletivo brasileiro. A escapada de Ghigghia, outro nome peñarolense, pela direita e o chute rente à trave, que passou por baixo do goleiro Barbosa. Uruguai 2 a 1, diante do maior silêncio de que se tem notícia. O silêncio de 200 mil torcedores incrédulos nas arquibancadas do Maracanã. O Uruguai era bicampeão do mundo.




Obdúlio Varela receba a Taça das mãos de Jules Rimet


Uruguai Bicampeão do Mundo - 1950

O capitão Obdúlio Varela ainda comandaria outra bela campanha celeste em Copas. Em 1954, na Suíça, o Uruguai emplacaria vitórias expressivas, como o 2 a 0 sobre a Tchecoslováquia e o 7 a 0 sobre a Escócia na primeira fase. E o 4 a 2 sobre a Inglaterra nas quartas-de-final. Na semifinal, enfrentou a clássica Hungria de Puskas e Kócsis, e acabou derrotado por 4 a 2. No ano seguinte, Obdúlio Varela aposentou-se do futebol vestindo a camisa do Peñarol. Camisa sem patrocínio. A única entre os jogadores em campo.


Obdúlio Varela com a camisa celeste


Obdúlio Varela no Peñarol

A seleção uruguaia ainda chegaria ao décimo título continental com as vitórias na Copa América de 1956 e 1959. Mas não conseguiria a vaga para a Copa do Mundo de 58, na Suécia.

A celeste voltou a aparecer com força em Copas do Mundo no primeiro mundial do México, em 1970, quando os uruguaios avançaram mais uma vez até as semifinais, mas pararam no Brasil de Pelé, Rivelino, Gérson, Carlos Alberto Torres, Jairzinho e Tostão. 3 a 1 Brasil, e o Uruguai levaria quarenta anos para repetir uma boa campanha em Copas do Mundo.





Com a chegada dos tempos de crise ao futebol uruguaio, os títulos rareavam. Depois de vencer a Copa América de 1967 e chegar às semifinais da Copa do Mundo de 70, o Uruguai só voltaria a vencer uma competição oficial em 1980, após bater o Brasil por 2 a 1 na final do Mundialito, em Montevidéu. O torneio era um mini-campeonato mundial realizado pela FIFA em comemoração aos 50 anos da primeira Copa do Mundo.


Seleção do Uruguai campeã do Mundialito - 1980


A volta Olímpica do Mundialito de 1980

Em 83, a celeste olímpica conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Caracas. No mesmo ano, venceu o Brasil nas finais da Copa América, que venceria novamente em 87, desta vez batendo o Chile na final. O último título oficial da seleção uruguaia veio na Copa América de 1995, quando venceu o Brasil nas cobranças de pênaltis na final.

Com este peso nas costas, somado às más campanhas nas últimas Copas do Mundo (precocemente eliminada em 86, 90 e 2002, além de não ter sequer participado em 78, 82, 94, 98 e 2006), a Celeste Olímpica chegou à Copa da África do Sul, em 2011 pela repescagem. No sorteio, foi colocada no que se convencionou chamar de grupo mais equilibrado da competição, junto com França, México e a anfitriã África do Sul. Havia quem apostasse que, mais uma vez, o time uruguaio não passaria à segunda fase. Não havia como estar mais enganado. Sob o comando do técnico Óscar Tabárez pela segunda vez em Copas (o treinador respondia também pela equipe eliminada pela Itália nas oitavas-de-final em 1990), a Celeste estreou empatando em zero a zero com a França, no que seria a única partida ruim da equipe. A partir daí, com as vitórias sobre a África do Sul (3 a 0) e o México (1 a 0), os uruguaios classificaram-se em primeiro lugar no grupo.


O Treinador Óscar Tabárez na Copa de 2010

O adversário das oitavas-de-final foi a Coréia do Sul. Vitória celeste por 2 a 1.



Nas quartas-de-final, o empate em 1 a 1 com Gana persistiu até o último minuto da prorrogação, quando a bola africana ia entrando no gol uruguaio. O atacante Luis Suárez defendeu com as mãos. O árbitro expulsou o jogador e marcou o pênalti. Era o último lance da partida, e o atacante ganês Asamoah Gyan bateu no travessão, levando o jogo para a decisão por pênaltis. Vencida pelo Uruguai, que foi às semifinais.




O delantero Luis Suárez põe a mão na bola e impede o gol da vitória da seleção de Gana


O delantero Sebastián "El Loco" Abreu bate, de cavadinha, o pênalti que deu a vaga nas smeifinais ao Uruguai

Duas emocionantes partidas se seguiram. Duas derrotas uruguaias, as duas por 3 a 2. Para a Holanda nas semifinais e para a Alemanha na disputa do terceiro lugar, esta com direito a cobrança de falta de Diego Forlán no travessão alemão nos acréscimos. O atacante uruguaio (que, apesar de ter sido revelado pelo Independiente-ARG, foi formado nas categorias de base do Peñarol) acabaria eleito o melhor jogador da competição.





Apesar do título não ter vindo, voltar às semifinais da Copa do Mundo depois de quarenta anos foi uma vitória para a desacreditada Celeste. Símbolo de uma retomada digna de festejo, do despertar de um gigante após um sono longo demais. Nesse embalo, a seleção uruguaia sub-20 conquistou o vice-campeonato sul americano da categoria e classificou a Celeste para os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Competição da qual o Uruguai não participava desde que conquistou o bi-campeonato em 1928.

[continua...]

Parte I

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